"Pensamos
todos os dias no valor incomensurável dos filhos e dos pais, sabemos o
quanto vale cada amigo, mas não contabilizamos os irmãos
Só
se percebe verdadeiramente a importância das coisas ou das pessoas
quando as perdemos. Quando as consideramos tão garantidas como o ar que
respiramos, nem pensamos no seu valor. Não fazemos contas, assim como um
milionário não faz contas para ir à mercearia nem sabe as oscilações do
preço da bica. Com os irmãos é assim que as coisas funcionam. E é por
isso que funcionam tão bem.
Nós não sabemos quanto vale um irmão. Nem pensamos nisso. Pensamos
todos os dias no valor incomensurável dos filhos e dos pais, sabemos o
quanto vale cada amigo, mas não contabilizamos os irmãos. É diferente
com eles. É diferente porque os irmãos são de graça. Eles caem-nos ao
colo sem planeamento, sem poder de escolha, sem pensarmos nisso. Também é
diferente porque nós crescemos com eles e crescemos juntos em tudo.
Começamos desde pequeninos a lutar, a brincar, a discutir, a partilhar a
casa de banho, o quarto, as meias, os jogos, os pais e os outros
irmãos. Eles crescem a meias connosco e por isso acabam por ficar mais
ou menos nós.
E é por isso que os irmãos nos conhecem melhor que os nossos pais ou
amigos. Conhecem-nos os tiques, as fraquezas, os gostos e as
sensibilidades; sabem o que quer dizer cada expressão nossa, aquilo que
nos faz chorar e os limites da nossa tolerância. Também sabem que podem
ultrapassar todos esses limites porque nada acontece, porque não há
divórcios de irmãos. Os irmãos não prometem amar-se na saúde e na doença
até que a morte os separe. Não precisam: quer prometam quer não, quer
queiram quer não, é mesmo assim que vão viver.
Em todas as outras relações é preciso tempo. É preciso guardar tempo e
ter tempo para estreitar laços, criar cumplicidades, ganhar confiança
ou aprofundar as relações. Mas os irmãos não precisam de tempo. Nós
gostamos dos nossos irmãos o mesmo que sempre gostámos apesar do tempo.
Nem mais nem menos um bocadinho que seja. Podemos passar anos sem nos
falar que não é por isso que as cumplicidades, os laços, a confiança
(muita ou pouca) se esvanece. Os irmãos são imunes ao tempo, à distância
ou às zangas e isso torna-os à prova de tudo.
Com os irmãos, ao contrário do que acontece com todas as outras
pessoas, também não precisamos de falar: basta estar. Se falarmos e
rirmos uns com os outros, melhor, é uma espécie de bónus; se
discutirmos, melhor ainda: quer dizer que podemos, quer dizer que somos
tão irmãos que até podemos discutir violentamente e continuar a ser
irmãos. Até ao fim.
Eu tenho a suprema sorte de ter oito irmãos. Ter oito irmãos quer
dizer ter oito melhores amigos, quer dizer ter oito pessoas que se
atiravam a um poço para me salvar (espero...) e oito pessoas a gostar
incondicionalmente de mim ao mesmo tempo. Já perdi dois deles, o mais
velho e o mais novo. Perdi-os numa idade em que não se perdem irmãos e
eles morreram estupidamente numa idade em que não é suposto morrer. Não
foi quando eles partiram que eu tive consciência do valor de cada um
deles, mas foi quando eles morreram que eu percebi que esse valor é
incomensurável, que quando morre um irmão morre um bocadinho de nós.
Percebi que há uma parte de nós que é só deles e essa parte desaparece
com eles.
Sei perfeitamente que o melhor presente que dei aos meus filhos foi
cinco irmãos a cada um, mas também sei que eles ainda não fazem ideia do
valor de cada irmão. Por enquanto discutem mais do que aquilo que
brincam, dividem mais do que aquilo que partilham e desconfio que teriam
escolhido um cão e uma viagem à Eurodisney a um bebé novo, caso eu lhes
tivesse dado a escolher. Mas os silêncios entre eles são cada vez mais
frequentes e os silêncios entre irmãos são tudo."
Porque quem tem irmãos sabe que isto é verdade.
Que podemos não falar todos os dias (nem todas as semanas).
Que podemos estar a muitos km de distância.
Mas que estaremos sempre lá, uns para os outros!
Sempre!
Verdade verdadinha :) Acho que devia ser mesmo comemorado esse dia!
ResponderEliminarBeijinho*
Também acho! ;)
ResponderEliminarVerdadinha, só tenho um, e revejo-me nessas palavras.
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