"A tragédia de Pedrógão Grande
é avassaladora. Humilha-nos com imensidão. A dor cala-nos. Não é altura
de tirar conclusões. Não é a altura de pensar em voz alta. É a altura
de ouvir, de querer ajudar, de respeitar quem morreu, quem luta pela
vida, quem está a sofrer.
O luto é nacional por ser sentido por todos mas, como todos os lutos,
só quem sabe quem perdeu é que o pode compreender. É a altura de
ouvirmos quem precisa, de ouvirmos quem não consegue falar, de ouvirmos a
angústia de quem só é capaz de chorar.
Cada pessoa que morreu era
o centro de várias vidas que nunca mais serão as mesmas. Custa pensar
nestas perdas, uma a uma e vez após vez, porque somos incapazes de
imaginar tal desespero. Mas é em todas estas perdas que temos de pensar:
quem era, quem eras, quem eram e a falta que faz, que fazes, que
fazem...
Não é a altura para falar em lições. Ninguém se ofereceu para dar a
vida para nos ensinar nada. Ninguém se sacrificou. As pessoas que
morreram e ficaram feridas — e todas aquelas que ficaram de cabeças
perdidas e corações pesados por causa delas — merecem o respeito
absoluto de ficarmos parados, sem sabermos como reagir.
É altura de ouvirmos, de ajudarmos,
de esperar para sabermos, dessas pessoas doridas, o que podemos fazer,
se é que algum de nós pode ajudar o que pode não ter ajuda, como a
morte.
As dimensões terríveis da tragédia obrigam-nos a pensar no
horror que seria só ter morrido uma pessoa. Foi o que aconteceu, muitas
dezenas de vezes. E nem o luto sabe responder."
Crónica de Miguel Esteves Cardoso aqui.
Crónica de Miguel Esteves Cardoso aqui.