«Quando sair este jornal, a Maria João e
eu estaremos a caminho do IPO de Lisboa, à porta do qual compraremos o
PÚBLICO de hoje. Hoje ela será internada e hoje à noite, desde o mês de
Setembro do ano passado, será a primeira vez que dormiremos sem ser
juntos.
O meu plano é que, quando me expulsarem
do IPO, ela se lembre de ir ler o PÚBLICO e leia esta crónica a dizer
que já estou cheio de saudades dela. É a melhor maneira que tenho de
estar perto dela, quando não me deixam estar. Mesmo ficando num hotel a
30 passos dela, dói-me de muito mais longe.
O IPO consegue ser uma segunda casa.
Nenhum outro hospital consegue ser isso. Podem ser hospitais muito bons.
Mas não são como uma casa. O IPO é. Há uma alegria, um humor, uma
dedicação e uma solidariedade, bem-educada e generosa, que não poderiam
ser mais diferentes da nossa atitude e maneira de ser - resignada,
fatalista e piegas - que são o default institucional da nacionalidade
portuguesa. É graxa? Para que tratem bem a Maria João? Talvez seja. Mas é
merecida. Até porque toda a gente que os três IPO de Portugal tratam é
tratada como se tivesse direito a todas as regalias. Há muitos elogios
que, não obstante serem feitos para nos beneficiarem, não deixam de ser
absolutamente justos e justificados.
Este é um deles. Eu estou aqui ao pé de
ti. Como tu estás ao pé de mim. Chorar em público é como pedir que nada
de mau nos aconteça. É uma sorte. É o contrário do luto. Volta para
mim.»
Miguel Esteves Cardoso, 28-11-2011
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